UM RABINO O CAMINHO DAS PEDRAS A ARTE DE SE SALVAR - SOBRE DESESPERO E MORTE Quem acompanha a carreira do jovem rabino Nilton Bonder não vai
se surpreender com o assunto escolhido em "A arte de se salvar",
seu sétimo livro. Ele gosta de temas polêmicos e desta vez
aborda a questão da finitude, da esperança e do consolo,
analisando como nos comportamos diante da perspectiva da morte. E mostra
como evitar, ao simples pressentimento de que ela está próxima,
que se instaurem no nosso dia-a-dia o caos e a desordem. Nilton Bonder sugere a utilização, no nosso cotidiano, do cOmando que na linguagem da informática recebeu o nome de "salvar" para armazenarmos na memória os arquivos de nossa individualidade, como uma espécie de salvo-conduto para fazer frente aos momentos em que pensamos não ter saída. A comparação é estimulante à primeira vista, mas a arte de convencer o leitor se revela uma tarefa árdua. Isso porque os livros de auto-ajuda, que vendem milhões, tratam de assuntos leves, capazes de despertar de imediato a simpatia do leitor. Quem não gostaria de encontrar a fórmula mágic para ser bem-sucedido, evitar o baixo astral, lidar com o sucesso, a inveja, o dinheiro? Em "A arte de se salvar" o enredo não é tão agradável: ele apresenta uma perspectiva sinistra, um cardápio sofrido, com o qual evitamos lidar. Mas é exatamente por ir contra a maré do oba-oba e abrir caminho para uma reflexão mais produtiva que o novo livro de Nilton Bonder merece ser lido com interesse. Como nos seus textos anteriores, que fogem ao imediatismo e à superficialidade comuns na literatura de auto-ajuda, ele utiliza as tradições e ensinamentos judaicos como seus aliados. A idéia de escrever "A arte de se salvar" surgiu depois que Bonder trabalhou com pacientes terminais no Memorial Sloan Kettering Hospital, em Nova York, e junto a vítimas da Aids no Brasil. Através dos ensinamentos de um mestre do século XVIII, Reb Nachman, que tratava o desespero "como uma fonte de ilusão ou de patologia existencial", ele monta um interessante quebra-cabeças e convida a todos a joga-lo nas horas mais dramáticas. Liderança alternativa no mundo rabínico do Brasil, Nilton
Bonder foI ordenado rabino pelo Jewish Theological Seminary e é
engenheIro mecanico formado pela universidade de Columbia. Depois de trabalhar
como pesquisador do Jewish Museum em Nova Yotk e de organizar a coleção
ibérica de manuscritos raros do seu seminário (que tem a
maior biblioteca judaica desde Alexandria, no seculo III) ele voltou ao
Brasil, onde vem reali Com um currículo tão combativo, o que Nilton Bonder tem a dizer aos leitores de "A arte de se salvar" é que "a descida é uma necessidade intrínseca da ascensão", e que é possível utiliar medidas "sanitárias" para combater os focos de desespero. Dito assim, parece um pouco leviano, mas o que não se pode reclamar, depois de lido o livro, é de falta de seriedade de propósitos e de consistência intelectual. Autoajuda sem preconceito Não é o milagre da multiplicação, mas o rabino Nilton Bonder transformou em pentalogia o que estava programado para ser, em princípio, apenas uma trilogia. Seus livros mais conhecidos, "A cabala da comida", "A cabala do dinheiro" e "A cabala da inveja" tinham como objetivo explicar um pouco da tradição judaica a partir de três temas básicos, que tocam justamente na imagem esteriotipada que os judeus carregam mundo afora. Com seu novo livro, "A arte de se salvar - Sobre desespero e morte" - que se junta a "O crime descompensa", lançado em dezembro de 1992 - Bonder tocou em mais dois aspectos: a morte e a ética. O "pentateuco" de Bonder, no entanto, pode ganhar mais um volume. Aos 35 anos, com sete títulos lançados em sete anos de rabinato, ele tem planos de escrever sobre mais um assunto, talvez o mais polêmico: sexo. Vendido como autor de livros de auto-ajuda, Bonder rejeita em parte o rótulo. A seguir, o autor conta como foi dado o título do livro e o que ele revela. O GLOBO - Como você vê a exposição de suas
obras em prateleiras de livros esotéricos e de auto-ajuda? O GLOBO - Como foi a escolha do título? Por que evitou a fórmula
"A cabala..." de seus outros livros? A idéia foi sua? O GLOBO - Como você definiria o livro?
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