OS MELHORES INIMIGOS
JORNAL DO BRASIL - CADERNO B - 12/ABR/1992
ELIZABETH ORSINI

A cabala da inveja, próximo livro do cult rabino Nilton Bonder, 33 anos, está fadado a ser um best-seller. Seu público é apenas a esmagadora maioria da população brasileira, sobretudo em tempos de crise: os invejosos e os invejados. Terceiro livro da trilogia do rabino da Congregação Judaica do Brasil, A cabala da inveja (Editora Imago, 228 pág.), com prefácio do poeta Hargldo de Campos, será lançado amanhã, às 20h, no Cineclube Estação Botafogo. Durante o lançamento serão exibidos três episódios do clássico do cinema francês Lês péchés capitaux (Os pecados capitais, de 1961): A gula, A avareza e A inveja.

Com A cabala da inveja, livro em que analisa a questão da violência a partir das relações humanas rotineiras, Bonder - encerra a trilogia que começou com A dieta do rabino - Cabala da comida (1O mil exemplares vendidos) e A cabalia do dinheiro (20 mil), este último o livro de cabeceira do ministro Marcílio Marques Moreira. Utilizando os ensinamentos da tradição judaica contidos no Talmude - código de ensinamento e tradição dos rabinos -, o autor revela a agressividade que liberamos e a que estamos expostos nas interações mais ro tineiras. Abordando temas como A descoberta da rixa,Fofoca - a rede informal de ódio, Guardando a pedra que te jogam, Convivendo com a má vontade, o livro incentiva o leitor a repensar a importância de seus "melhores inimigos". São os 'inimigos' afinal, aqueles que detêm os mais perigosos segredos e revelações a nosso respeito. "Afinal, se amamos tanto a nós mesmos, por que não deveríamos nos sentir curiosos em relação a esses estranhos seres que não gostam de nós?", questiona Bonder , que chega ao requinte de recomendar prescrições rabínicas secretas contra a irritação que causa a inveja, para serem exercitadas diariamente.

"A tecnologia da paz existe há milênios. A implementação dela é que está levando muito tempo", analisa Bonder, que faz seu Shabat na Congregação Judaica do Brasil, na Barra da Tijuca. Ele tem consciência de que o mais difícil é colocar em prática essa tecnologia da paz, fazendo com que ela saia do papel para o burburinho do trânsito, para os guichês do INPS que se recusam a pagar os 147% ou para as filas dos supermercados. Em A cabala da inveja, Bonder não pretende estudar a patologia da, inveja, mas dar meios para que os leitores passem a conviver sem tensões e sem rancores com a inveja alheia e a própria: "O que eu pretendo é isolar o vírus da inveja, identificá-lo em suas inúmeras dissimulações e investir na descoberta de nossa verdadeira cara. "